Os
Mistérios da Vida Além da Morte...
“Ora, o último inimigo que há de ser
aniquilado é a morte”. - I Cor. 15:26
“Porquanto a vontade do Pai é esta: Que todo
aquele que vê o Filho, e crê Nele, tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no
último dia”. - Yohanan 6:40
O supremo
objetivo da religião verdadeira é resgatar a vida, que está aprisionada pela
fatídica Lei da Morte desde que o pecado entrou no mundo. Essa é a esperança
que temos em Deus: É crer que Ele existe e que nos dará a vitória sobre o nosso
inimigo, que é a morte. Muitos podem pensar que essa esperança que temos é uma
ilusão, e, não existe Vida Além da Morte. Mas, será que temos algum tipo de
experiência, ou prova científica sobre a Vida Além da Morte?
Saída
do corpo, travessia de um túnel, visão de luzes sobrenaturais:
os relatos daqueles que voltaram do
"lado de lá"
O medo da morte já fez com que muita gente
perdesse a alegria de viver. E, até recentemente, as correntes religiosas,
filosóficas e científicas dominantes muito pouco tinham a oferecer a essas
pessoas angustiadas. Para as gerações mais velhas, era melhor nem pensar na
morte. Pois o que isso trazia à memória eram os livros materialistas lidos na
adolescência, nos quais toda a consciência se extinguia com o último suspiro. A
falta de qualquer perspectiva, não deixava espaço para o conforto e a esperança.
As pessoas, hoje têm o privilégio de respirar uma atmosfera bem menos
opressiva. Graças ao fantástico progresso dos procedimentos médicos e das
técnicas de reanimação, cada vez mais pessoas vêm sobrevivendo a episódios de
morte clínica (caracterizados pela parada cardíaca). E os relatos que muitos
fazem dessas situações-limite, daquilo que viram, ouviram e sentiram na
trajetória interrompida para o "lado
de lá", apresentam
uma nova visão da morte e da própria vida. Em lugar da angústia de
caminhar para o completo aniquilamento, eles falam da certeza absoluta de que
estavam apenas transitando de um plano a outro da existência. E, embora alguns reportem vivências
aflitivas, talvez provocadas por memórias carregadas de culpa, muitos no
entanto, descrevem extraordinárias experiências de luz e plenitude, sábias
reavaliações dos momentos vividos, encontros com seres carregados de
compreensão, compaixão, amor e até mesmo bom humor.
Nos Estados Unidos, essa vivência incomum foi
batizada com a sigla NDE, formada
pelas iniciais da expressão Near Death
Experience - Experiência Próxima da Morte, às vezes também traduzida como
Experiência de Quase-Morte. Desde a década de 70, ela vem sendo estudada, com
todos os requintes do método científico, por médicos, psiquiatras, psicólogos e
tanatólogos - como são chamados os pesquisadores do fenômeno da morte. E foi
feito até um levantamento de todos os casos de NDE registrados no território
americano. Segundo essa pesquisa, realizada pelo Instituto Gallup, 5,2% da
população adulta dos Estados Unidos já passou por esse tipo de experiência. Em
números atuais, essa porcentagem corresponde a aproximadamente 13 milhões de
indivíduos.
A
Experiência da Psicanalista Paulista R. L.
No Brasil, a psicanalista paulista R. L., 46
anos, é uma das muitas pessoas que chegou ao limiar da morte com a consciência
plenamente desperta. A experiência ocorreu quando um abscesso provocou em seu
organismo uma infecção generalizada. Sua condição física deteriorou-se
rapidamente e a pressão arterial encostou-se a zero. Na UTI, R. L. sentiu-se
desfalecer. "Tive a impressão de que minha 'imagem' saía fora
do corpo. Ela mantinha minha forma corpórea, mas era semitransparente. Meu
pensamento acompanhava essa 'imagem', que flutuava perto do teto. De lá, eu via
meu corpo. Porém já não o sentia mais." Ao se desapegar do corpo, R. L. percebeu-se entrando num túnel,
em fantástica velocidade. "Havia um forte zumbido. À
medida que eu avançava, vinham-me imagens de meu passado remoto, dos tempos de
criança. Eram cenas comuns, brincadeiras infantis. Ao mesmo tempo, uma voz
interna, inaudível, me perguntava: 'O que você aprendeu com isso? Valeu a
pena?'. Eu experimentava uma incrível sensação de leveza, de paz e de
felicidade." Enquanto
contemplava imagens há muito tempo esquecidas, R. L. deu-se conta de que o
túnel em si era escuro, viajava nesse túnel em excesso de velocidade. Mas, na
saída, havia uma luz de intensidade indescritível. "Naquela luz,
vislumbrei um jardim. E, ao deixar o túnel e entrar nele, vi que era muito
espaçoso, com gramados verdes e árvores enormes. A sensação que ele transmitia
era tão pacífica, tão deliciosa, que eu jamais ia querer sair de lá. No jardim,
percebi um banco, com três pessoas sentadas. Não consegui ver seus rostos, mas,
à medida que fui me aproximando, elas começaram a se movimentar, como que para
me receber. A primeira chegou perto; a segunda, até o meio do caminho; a
terceira ainda permanecia sentada." Mas o processo foi bruscamente
interrompido. Porque, enquanto enxergava o jardim e as três pessoas, R. L.
continuava visualizando as imagens de sua vida. E, de repente, viu uma foto
onde apareciam seus dois filhos mais velhos, que, na época, ainda eram bebês.
"Nesse instante, eu gritei: 'Não posso morrer! Tenho dois filhos pequenos
e eles precisam de mim!' ". Foi a
primeira vez, durante toda a experiência, que lhe veio a ideia de morte.
"Eu não tive medo, mas o amor por meus filhos me puxou imediatamente de
volta. Senti como se levasse uma pancada na cabeça. Abri os olhos e me vi outra
vez em meu corpo, na UTI. A partir daí, minha pressão subiu e eu pude ser
operada." Como já aconteceu com muitas outras pessoas, essa experiência
trouxe para R. L. mudanças de vida radicais. "A principal foi que eu voltei a
acreditar em Deus."
Desde a adolescência, a psicanalista havia comprado a idéia de que Deus é uma
invenção humana, destinada a compensar nossas fraquezas, medos e limitações.
Depois de passar pelo que passou, ela compreendeu que há muito mais coisas
entre o Céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia. "A segunda
mudança importante foi em relação aos valores. Entendi que a gente está aqui
para aprender, para evoluir, para se tornar uma pessoa melhor."
A
Experiência de Maria S. S. Graciani
Maria Stella Santos Graciani, 49 anos, passou
por experiência semelhante em março de 1986. Pedagoga e cientista social, ela é
atualmente vice-diretora do Centro de Educação da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Há 12 anos, viveu um grave episódio de arritmia
cardíaca, que provocou sua morte clínica. Na UTI, percebeu-se saindo do corpo. “Fui levada para
dentro de uma turbulência circular." Era um túnel bastante escuro, no qual
ingressou em alta velocidade. "De lá fui arremessada para um lugar
intensamente iluminado. Não havia nenhuma paisagem, nenhum cenário, só uma luz
transcendental. Senti uma paz e uma tranquilidade indescritíveis. E, quando
estava imersa naquela sensação, vi duas figuras se aproximando. Eram duas
figuras de luz. Eu não conseguia distinguir perfeitamente suas feições, mas
percebi que um
tinha barba e o outro usava um chapeuzinho na cabeça.” Mas, quando estava quase chegando, eles fizeram um sinal para eu
voltar. E, nesse mesmo momento, comecei a recapitular minha vida anterior e
lembrei-me de minhas duas filhas, Graziela e Juliana. Retornei, então, pelo
mesmo turbilhão. Revi meu corpo na UTI e os médicos fazendo um esforço
desesperado para reanimá-lo. “Senti um tranco e ouvi um dos médicos dizer: ela
está viva.”
Mestres e
profetas
O que mais impressiona nas experiências
próximas da morte é a semelhança dos relatos. Embora não haja uma só narrativa
que seja rigorosamente igual a outra, a grande maioria segue um roteiro básico,
cuja incidência desafia qualquer tentativa de qualificar essas vivências como
meras alucinações. Da parada cardíaca ao
final da reanimação, tal roteiro obedece, em linhas gerais, a dez etapas bem delimitadas:
1. A pessoa sente-se
desprender do corpo e, nesse momento, cessa todo o desconforto, a dor e a
aflição que a acompanhavam;
2. Uma forma semelhante ao corpo, porém mais
sutil, passa a flutuar alguns metros acima do chão. A consciência individual da
pessoa mantém-se ligada a essa forma e, do alto, observa o corpo inerte lá
embaixo.
3. A consciência
registra todas as imagens e sons do ambiente. Caso se trate de uma UTI, ela
pode ver e ouvir o funcionamento dos aparelhos e o esforço da equipe médica
envolvida na reanimação do corpo;
4. Num dado momento,
a consciência desinteressa-se por essas informações e, mudando o seu ângulo de
visão, percebe a existência de um vórtice ou túnel, que a atrai com uma força
irresistível;
5. A
forma-consciência penetra no túnel e desloca-se através dele numa velocidade
estonteante. Um forte zumbido, difícil de qualificar, acompanha o deslocamento;
6. Enquanto se
desloca, a pessoa recapitula criticamente sua vida. As memórias que emergem
dificilmente seriam consideradas importantes num estado ordinário de
consciência. Revelam-se, no entanto, altamente significativas, no contexto da
avaliação. A experiência inteira não obedece aos padrões usuais de espaço e
tempo. Toda uma existência pode ser rememorada em poucos segundos;
7. No final do
túnel, a consciência percebe uma luz, cujo esplendor não tem paralelo com
nenhum fenômeno luminoso do mundo material. Essa luz lhe transmite uma
extraordinária sensação de paz, plenitude e felicidade. Ela quer ingressar na
luz e de forma alguma deseja regressar ao corpo físico;
8. A súbita
emergência de uma memória específica interrompe o processo. A pessoa se lembra
de entes queridos ou de alguma outra questão pendente em sua vida;
9. Ela sente, então,
uma forte pancada. E a forma-consciência se reacopla ao corpo físico;
10. O quadro clínico
da pessoa sofre uma súbita e inexplicável melhora.
Esse roteiro básico pode ser enriquecido pela
descrição de cenários deslumbrantes, como o jardim visto por R. L. na outra
extremidade do túnel. Por comunicações com parentes e amigos falecidos. Ou pelo
encontro com seres de luz, que transmitem à pessoa um sentimento de amor
incondicional. Em determinados relatos, esses seres são descritos como anjos ou
guias. Em outros, são associados às figuras de santos e profetas. No caso dos
anjos ou guias, algumas pessoas afirmam que os viram antes mesmo de sair do
corpo físico, ou pouco depois de fazê-lo, e que foram conduzidas por eles ao
longo de toda a experiência. Já as outras manifestações ocorreriam
principalmente depois da travessia do túnel. No campo da psicologia, tais ideias
não deveriam provocar grandes surpresas, pois um dos papas da área, o
psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), vivenciou fantástica experiência
visionária após sofrer um enfarte cardíaco. Em estado de coma, ele viu-se fora
do corpo e do próprio planeta. "Parecia-me estar muito longe, no espaço
cósmico", relatou anos depois. "Abaixo de mim, eu via o globo
terrestre, banhado por uma maravilhosa luz azul. Justamente sob os meus pés
estava o Ceilão (Sri Lanka) e, na minha frente, estendia-se o subcontinente
indiano." Mais tarde, Jung informou-se a que distância da Terra deveria
estar para visualizar tal amplidão: cerca de 1.500 quilômetros. Numa época em
que os aviões não ultrapassavam a altitude de 10 quilômetros, essa visão era
inimaginável. Ela só se tornaria acessível à humanidade no início dos anos 60,
com os primeiros voos espaciais tripulados. Jung saiu do coma e, em três
semanas, recuperou-se totalmente. Mas essa experiência marcou-o para sempre:
entre outras lições, ficou a certeza de que tudo o que valorizamos como sendo a
vida é apenas um pequeno fragmento da existência.
Visões tão poderosas como esta explicam por
que as experiências próximas da morte ganharam as páginas de um sem-número de
livros e inspiraram filmes de tanto sucesso, como Ghost e Linha Mortal. Porém,
entre os milhares de casos registrados, é difícil encontrar alguém que tenha
vivenciado mais de uma vez esse tipo de situação. Foi o que ocorreu com a
psicóloga brasileira Ita Perla Wilde de Moraes, 41 anos. Com saúde frágil, ela passou por
uma experiência próxima da morte em 1986, quando entrou em estado de coma
durante a retirada de um cálculo renal e
viu intensos focos de luz sobrenatural.
Em junho deste ano, Ita voltou a colocar os pés na estrada que leva ao
"lado de lá". Um quadro de bronquite aguda fez sua pressão arterial
subir a 23 por 18 e, desta vez, ela chegou a atravessar o túnel. Foi parar num
espaço ricamente iluminado, onde uma voz masculina, ao mesmo tempo austera e
suave, transmitiu-lhe uma mensagem pessoal precisa. “A partir daí, comecei a
escutar, muito ao longe, a voz da minha irmã, me chamando. Ouvi também uma
enfermeira dizer que a minha pressão estava cedendo.” Dois dias depois, Ita
teve alta. Alguns médicos não pensariam duas vezes antes de rotular um caso
desses como alucinação, provocada pela overdose de anestésicos tomados durante
a cirurgia. Esta é a interpretação-padrão e não resta dúvida de que realmente
dá conta de vários episódios. Mas, como enfatiza o neurologista Roger Walz,
pesquisador do Centro de Memória da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
tal explicação de forma alguma esgota o assunto. "Devido à interrupção
momentânea da irrigação sanguínea, associada ao uso de remédios durante as
manobras de ressuscitação, podemos supor que a retomada das funções cerebrais
seja acompanhada de distorções sensoriais", afirma o neurologista.
"Isso explicaria fenômenos mais simples, como a visão de luzes e a audição
de sons inarticulados, ou até mesmo certas alucinações. Porém, fenômenos mais
complexos e cujos relatos se repetem, como por exemplo ver o corpo do lado de fora,
continuam sem explicação do ponto de vista neurológico. Não creio que sejam
sonhos, pois seria difícil o cérebro dedicar-se a uma função tão sofisticada
num momento em que está entrando em colapso."
Fora do
Corpo
Foi uma vivência descrita como encontro com
Cristo que inspirou o médico americano Raymond Moody a iniciar a mais célebre
pesquisa das experiências próximas da morte, relatada no livro Life After Life
(Vida Depois da Vida). O caso foi contado a Moody pelo psiquiatra Georges
Ritchie, que, em 1943, quando ainda era um jovem soldado, sofreu uma severa
pneumonia, teve picos de febre altíssimos e entrou em estado de coma. Horas
depois de ter mergulhado na inconsciência, Ritchie acordou, levantou da cama e
começou a percorrer os corredores do hospital. Mas descobriu que ninguém
parecia ouvi-lo ou enxergá-lo. E mais: as pessoas atravessavam o que ele
julgava ser o seu corpo sem a menor dificuldade. Espantado, ele voltou ao
quarto e percebeu seu verdadeiro corpo estendido sobre o leito. Nesse instante,
uma luz extraordinária entrou em seu campo visual. Pouco a pouco, ele começou a
divisar, nessa luminosidade, uma forma humana. E, quando sua consciência
assimilou a percepção, Ritchie ouviu, dentro de si mesmo, uma ordem
inquestionável: "Fique
de pé, pois você está na presença do Filho de Deus" . Anos mais tarde, ele disse a Moody
que aquele não era o Jesus de seus
livros de catecismo. "O Jesus desses livros era gentil, amável,
compreensivo e talvez um pouco fraco. Aquele personagem era o próprio poder,
mais idoso que o tempo e no entanto mais moderno que qualquer pessoa. O que
emanava dessa presença era um amor incondicional." Na frente dessa figura
impressionante, o rapaz viu desfilar toda sua vida. E ficou muito embaraçado ao
se deparar com as experiências sexuais da puberdade. Mas aquilo não pareceu
chocar nem um pouco o seu interlocutor. Este lhe perguntou então: “O que
você fez em sua vida que possa me mostrar?” Sem conseguir encontrar nada
que valesse a pena, Ritchie argumentou que não tinha o que mostrar porque ainda
era muito jovem para morrer. Ao que o personagem replicou: "Ninguém
é jovem demais para morrer, porque se trata apenas da passagem de uma realidade
a outra". E levou-o
para conhecer cinco dessas outras realidades. Depois de visitar mundos que jamais
sonhou existir, Ritchie mergulhou outra vez na inconsciência. Enquanto isso, os
médicos o davam como clinicamente morto. Inconformado, um médico residente
resolveu fazer uma última tentativa e enfiou uma agulha hipodérmica no coração
do soldado. O músculo voltou a bater.
Pesquisas
médicas
O livro de Moody foi publicado pela primeira
vez em 1975, com uma tiragem modesta de 2 mil exemplares. Para surpresa do
pesquisador e de seus editores, já foram vendidos mais de 14 milhões de
volumes, em dezenas de idiomas diferentes. Sua investigação pioneira foi
amplamente confirmada pelas criteriosas pesquisas de outros cientistas, como os
cardiologistas americanos Maurice Rawlings e Michael Sabom. O curioso é que
esses dois médicos não tinham até então qualquer interesse por temas
espirituais e consideravam as descrições das NDE um mero sensacionalismo da
imprensa. Porém, foram obrigados a rever tal ponto de vista ao se depararem com
casos vivenciados por seus próprios pacientes.
Mas a prova mais conclusiva da veracidade das
experiências próximas da morte foi fornecida pela pesquisa do pediatra
americano Melvin Morse. Liderando uma equipe composta por um anestesista, um
neurologista e um psiquiatra, Morse verificou que, depois de terem passado por
episódios de morte clínica, também crianças, de diferentes idades, condições
sociais e credos religiosos, descreviam vivências que seguiam o roteiro
clássico das NDE. A
investigação foi provocada por uma ocorrência excepcional, atendida por Morse.
Trata-se do caso de Krystel Merzlock, na
época uma menina de 7 anos de idade. Após um afogamento, a garota teve
parada cardíaca e permaneceu em condição de morte clínica durante nada menos de 19 minutos. Segundo acredita a
medicina, caso o coração fique três minutos sem bater, o processo de morte
torna-se irreversível, porque as células cerebrais começam a serem destruídas
por falta de oxigenação. Mesmo que o coração volte a funcionar, o cérebro sofre
lesões irreparáveis. Pois bem, a despeito de todas as crenças oficiais em contrário,
a pequena Krystel voltou à vida. E, o que é ainda mais extraordinário: sem
qualquer sequela neurológica. Quando a interrogou, dias mais tarde, Morse
descobriu que Krystel tinha perfeita consciência dos procedimentos utilizados
durante a reanimação. Mas as surpresas do médico estavam só começando. Seu
sistema de crenças seria ainda mais radicalmente posto à prova, quando Krystel
lhe contou que fora levada por seu "anjo
da guarda" à
presença do "Pai
Celeste". Este
teria perguntado se ela queria ficar com Ele ou regressar para os pais. Num
primeiro momento, a menina decidiu ficar, mas, depois de ter a visão de seus
irmãos brincando, resolveu voltar para casa. Morse pôs-se a pesquisar as NDE
infantis. Porém, apesar do insólito relato de Krystel, suas convicções
cientificistas falaram mais alto e ele adotou a hipótese de que as percepções
que acompanhavam essas ocorrências eram simples alucinações provocadas pelo
coquetel de medicamentos ministrado aos pacientes e pelas substâncias que o
próprio organismo libera na iminência da morte. A intenção de Morse e sua
equipe era provar, cientificamente, que Raymond Moody estava errado. A
pesquisa, porém, demonstrou exatamente o contrário. Depois de tabular e
analisar 200 entrevistas, Morse concluiu que as experiências não poderiam, de
forma alguma, ser reduzidas a meros episódios alucinatórios.
Enquanto os médicos abordavam o assunto por
um lado, a psicologia se aproximava dele pelo outro. E, nesse campo, nenhuma
contribuição se iguala à do psiquiatra tcheco Stanislav Grof. Durante 40 anos e
trabalhando com dezenas de milhares de voluntários, ele realizou uma
revolucionária pesquisa da mente. Num primeiro momento, recorreu a altas doses
de ácido lisérgico (LSD) para
provocar estados inusuais de consciência nas pessoas pesquisadas. Mais tarde,
substituiu a droga por um método não químico, conhecido como respiração
holotrópica. Neste, os participantes respiram de forma específica, enquanto
ouvem músicas de alto poder evocativo e são submetidos, eventualmente, a certas
intervenções corporais localizadas. Após registrar e analisar meticulosamente
os relatos de milhares de indivíduos, o psiquiatra convenceu-se de que nem o
LSD nem a respiração holotrópica produziam alucinações. Eles atuavam, isto sim,
como amplificadores da atividade
psíquica, permitindo que conteúdos inconscientes se tornassem explícitos.
E, entre esses conteúdos, estavam os cenários e roteiros descritos nas
experiências próximas da morte. Em outras palavras, nos trabalhos coordenados
por Grof e seus seguidores, muitas pessoas, plenamente vivas, tiveram as mesmas
visões e sensações que caracterizam as NDE. E, o que é mais interessante: essas
visões e sensações coincidiam muitas vezes nos mínimos detalhes, com narrativas
sobre o "além",
sustentadas por diferentes tradições espirituais, mas que eram antes totalmente
ignoradas pelas pessoas envolvidas no experimento. A pesquisa de Grof reforçou
a ideia de que as experiências visionárias próximas da morte não eram fantasias
alucinatórias, mas expressavam algum tipo de contato com outros níveis da
realidade. Esses mesmos domínios podiam ser visitados por pessoas vivas e
saudáveis, em estados ampliados de
consciência. A pressa com que alguns cientistas descartam as experiências
próximas da morte tem mais a ver com a defesa intransigente de um sistema de
crenças do que com uma atitude realmente científica. Para esse tipo de mente
positivista, que só acredita no que os olhos vêem, certos relatos apresentam
talvez um desafio insuperável. É o caso deste episódio, levantado por Raymond
Moody. Uma paciente, de nome Maria, é declarada morta. Após a reanimação, seu
coração volta a bater. Ela recobra a condição de falar e conversa com Kim, a
médica que a atendeu. Diz-lhe, então, que, durante a saída do corpo, sua
forma-consciência flutuou pelo hospital e encontrou um sapato velho no batente
da janela de um andar mais alto. Muitos especialistas simplesmente encarariam
Maria com um sorriso incrédulo, pensando consigo mesmos: "Pobrezinha,
alucinou". Kim, porém, resolveu conferir. O sapato estava lá.
A Morte
como Transposição para outra Dimensão da Vida
A morte não é um fenômeno pontual. É um processo. Se as pessoas voltam
é porque esse processo não se concluiu. Mesmo assim, há o desprendimento
parcial, com enorme alargamento da consciência e o encontro com um mundo que já
pertence ao divino. A morte em nossa cultura constitui um trauma terrível,
porque é sempre entendida como negação da vida. Porém, nessas experiências, o que se vê é a ampliação da vida, o acesso
a uma dimensão da qual as pessoas só retornam com muita relutância. Na
própria morte dá-se a ressurreição. Não como devolução à vida. Mas como
realização plena das virtualidades do ser humano. O rabino Nilton Bonder
relata: Trabalhei em hospitais, com doentes terminais, nos Estados Unidos. E presenciei
várias situações dessas. O que mais impressiona é a euforia com que as pessoas
relatam suas experiências. Eu acho que, nessas ocasiões, elas realmente fazem contato com a
verdadeira natureza humana, com a fonte da existência. Mas não têm, necessariamente, uma visão
objetiva.
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